Mineradora de Congonhas quer remover casal de idosos para empilhar rejeitos em área verde

João, 74, e Geralda, 66, vivem sob apreensão após Justiça autorizar desapropriação do imóvel secular da família, em Santa Quitéria, zona rural de Congonhas (MG)

Congonhas (MG) – O clima é de angústia na comunidade de Santa Quitéria, na região Central de Minas Gerais. João de Paula, de 74 anos, e sua esposa, Geralda, de 66, enfrentam a possibilidade de serem removidos de sua própria casa, um imóvel com quase um século de existência, para dar lugar a uma pilha de rejeitos de minério que poderá alcançar a altura de um prédio de 115 andares.

A desapropriação foi autorizada pela Justiça, a pedido da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que pretende utilizar a área para expansão de suas atividades minerárias. A decisão causou revolta entre moradores da região e familiares do casal, que vivem no local há décadas, preservando memórias, tradições e recursos naturais — como uma mina d’água que ainda brota na propriedade.

Danila Fernanda de Paula, filha do casal, lamenta o que considera uma violência contra a história da comunidade. “Lembro dos piqueniques com minha avó na nascente. A água ainda corre ali, mas agora corre também dos meus olhos. Estão querendo enterrar nossas lembranças vivas”, desabafa.

A região, conhecida por sua riqueza natural e cultural, tem sido alvo de intensos debates sobre os impactos socioambientais da mineração. A comunidade de Santa Quitéria já realizou protestos contra a desapropriação e alerta para os riscos da nova pilha de rejeitos, que ficará logo acima das residências locais, ameaçando o meio ambiente e a segurança dos moradores.

Enquanto a CSN alega estar cumprindo todas as exigências legais para a expansão de suas atividades, especialistas e ambientalistas questionam a viabilidade da instalação de estruturas tão próximas a áreas habitadas e fontes de água. Duas decisões recentes publicadas pelo presidente do Tribunal Regional Federal da 6ª Região foram contrárias aos interesses da mineradora em outros processos, aumentando a tensão jurídica sobre o caso.

João e Geralda seguem aguardando o desfecho da batalha judicial com esperança e resistência. “É mais do que uma casa. É nossa vida. Nossa raiz está aqui”, diz João, com os olhos fixos no horizonte da terra que pode ser tomada a qualquer momento.


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